13 junho 2017

Mestre Kame e o Ativismo Otaku



Saiu uma nota num site nacional essa semana que o Comitê de ética (BPO Broadcasting Ethics and Program Improvement Organization) compartilhou uma reclamação formal a respeito do anime Dragon Ball Super sobre um episódio no qual o Mestre Kame agindo incorretamente contra uma personagem da animação tocando seu corpo e olhando suas roupas de baixo. Coisa que é característica do personagem e que sempre foi seu comportamento padrão no anime e no mangá.

Como todo fã de Dragon Ball sabe, o Mestre Kame sempre que tenta fazer isso ele acaba apanhando toda vez. É humor característico da série, tem quem goste, quem não goste. Mas o que levou a reclamação sobre o personagem foi o fato de que o anime passa as 9 da manhã aos domingos, um horário bem cedo para uma cena desse tipo estar num anime. Lá pelo que entendi funciona da seguinte forma: se um programa apresenta cena inadequada o telespectador tem a liberdade de denunciar pro orgão e o anime é removido, muitos animes foram alvo disto devido a conteúdo inapropriado: como Gundam, Nanatsu no Tazai entre outros (segundo este link). Uma coisa normal para eles lá esse tipo de atitude quanto a isto: o anime denunciado é realocado para um horário onde ele pode ser exibido. Desde 2007 este órgão existe para fiscalizar a midia Japonesa.

No nosso país a partir dos anos 2000 a TV Aberta resolveu se organizar quanto a classificação indicativa dos programas exibidos, essa medida posteriormente afetou a TV paga. Diversos programas (não só animes) tiveram que se adequar para os horários nos quais eram exibidos. Quem se lembra do Gilberto Barros em rede nacional rasgando cards piratas do Yu Gi Oh? Foi prelúdio para se fiscalizar com mais rigor para esse tipo de produção, mesmo porque nos anos 90 já tínhamos problemas com produções com conteúdo inadequado nas manhãs e nas tardes. Quem se lembra de filmes de terror passando nas tardes da TV? 

E todos os fãs entraram em surto quanto a essa medida, o público Otaku primeiramente debandou para a TV Paga e esta com disse também teve que regularizar também quanto a nova classificação indicativa, que apertava mais o cerco aos programas. Com uma popularização maior da internet de alta velocidade e downloads de episódios com legendas, o interesse desse público a exibição da TV diminuiu. Hoje o que resta de produções orientais na TV são aquelas com produto vendável embutido (leia-se brinquedos) e somente na TV paga.

 Hoje temos serviços de streaming e um mercado muito específico para esse tipo de produto: onde se permite a exibição na íntegra sem cortes das produções, apesar de não contar com um marketing abrangente e dublagem em muitas produções. Quem procura esse tipo de produto por aqui é fã no final das contas.

Na época todos os fãs achavam absurdo essa perseguição as produções com o argumento de que "passa coisa pior na novela e ninguém liga", mas o tempo mudou. Agora são os fãs (pelo menos uma parte) se tornaram ativistas e eles querem mudar a maneira de como um personagem se comporta. A repercussão do caso de Dragon Ball Super motivou alguns a pensar que isso é uma espécie de justiça social que está combatendo a objetificação das mulheres no mangá, entre outras "teorias" vindas do marxismo cultural: o velho mimimi do chilique contra um personagem de obra de ficção. Quem estão politicamente corretos são os fãs em sua parte. Diversos grupos de debates, blogs e fóruns estão virando uma espécie de celeiros de crítica social: não se discute mais sobre histórias, se problematiza personagens e suas condutas.

O mais incrível que o produto como mangá e anime que é um produto que atende diversas vertentes com diversas temáticas para todos os gostos tenha criado um público tão conservador a ponto de reclamar de roupas de um personagem ou sobre questões sociais em algo que serve a diversão. Sabe, ás vezes sinto falta dos Otakus bobos da época do Orkut que eram facilmente trolados que esses ativistas vitaminados por Mupy. Como disse um conhecido: vivemos uma guerra cultural onde a paranoia quer vencer a diversão. Isto ocorre com os fãs de hq, era lógico cedo ou tarde com os fãs de mangás. Pelo menos lá no Japão isso  não afeta na maneira como as produções são feitas por lá existe a rigidez com o conteúdo que é exibido, mas não há uma censura opressora e não se prega um comportamento para tal.

Vídeo com a cena alvo da reclamação:


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