11 setembro 2025

Protestos no Nepal: como a geração Z derrubou o governo comunista e transformou One Piece em símbolo de resistência

 


O Nepal viveu, em setembro de 2025, os maiores protestos das últimas décadas. O estopim foi a decisão do governo de banir 26 redes sociais, entre elas Facebook, Instagram, WhatsApp, X (antigo Twitter) e LinkedIn. A medida foi apresentada como uma tentativa de “regular” as plataformas, mas para milhões de nepaleses soou como censura digital.

A população, já cansada de escândalos de corrupção, nepotismo e ostentação da elite política nas redes sociais, reagiu com força. Em poucas horas, milhares de jovens tomaram as ruas, liderados principalmente pela geração Z, que sofre com alto desemprego, falta de perspectivas e serviços sociais precários.

De protestos a crise nacional

O movimento rapidamente ganhou dimensão histórica:

  • 19 pessoas morreram nos confrontos, segundo fontes locais.

  • Centenas ficaram feridas, com estimativas que variam entre 300 e 400 feridos.

  • O exército foi mobilizado e decretado toque de recolher em cidades como Katmandu.

  • O aeroporto internacional foi fechado temporariamente, afetando voos e deslocamentos.

  • Manifestantes incendiaram prédios públicos e casas de parlamentares, o que forçou vários políticos a fugir.

A repressão policial incluiu gás lacrimogêneo, balas de borracha, canhões de água e, em alguns casos, uso de munição real.


A queda do governo

Diante da pressão crescente, o primeiro-ministro K.P. Sharma Oli renunciou ao cargo. Outros ministros, como o do Interior, também deixaram o governo após a escalada da violência.

O bloqueio das redes sociais foi revogado, mas o estrago já estava feito: a crise expôs a fragilidade das instituições nepalesas e a distância entre a elite política e a população.


O simbolismo inesperado: One Piece nas ruas


Entre bandeiras políticas e cartazes de protesto, um símbolo surpreendeu a mídia internacional: a bandeira dos Chapéus de Palha, do anime e mangá One Piece.

Para os jovens nepaleses, o Jolly Roger de Luffy representa liberdade, desafio à tirania e lealdade a ideais — valores que dialogam diretamente com a revolta contra corrupção e censura.

O uso espontâneo desse ícone cultural mostrou como a cultura pop pode ser uma ferramenta de mobilização política. Para a geração Z, crescida com animes e redes sociais, símbolos assim são fáceis de reproduzir, compartilhar e compreender.


Raízes do descontentamento


Além da censura digital, os protestos refletem um acúmulo de insatisfações:

  • Nepotismo e clientelismo: cargos públicos dados a familiares e aliados políticos, não por mérito.

  • Ostentação de luxo: filhos de políticos, apelidados de “nepo kids”, exibindo riquezas no TikTok, enquanto milhões vivem em pobreza.

  • Desigualdade social: elites enriquecendo com recursos públicos, enquanto jovens enfrentam desemprego acima de 20%.

  • Corrupção sistêmica: verbas desviadas e instituições desacreditadas.


Nepal em perspectiva


  • População: cerca de 30 milhões de habitantes.

  • Economia: fortemente dependente de remessas de nepaleses que vivem no exterior.

  • Política: desde 2008, dominada por partidos comunistas (mauístas, marxistas-leninistas), que trocaram o discurso revolucionário pelo poder centralizado.

Esse contexto gerou um abismo entre o povo e as elites, criando as condições perfeitas para a explosão social que o mundo assistiu.


O que fica dessa revolta?


O caso do Nepal prova que tentar calar a voz de uma geração conectada pode ter efeito contrário. Em vez de silenciar, o governo catalisou a revolta.

E o detalhe mais simbólico de todos: um anime japonês virou bandeira de resistência política. One Piece, que já ultrapassou 1.000 episódios, mostrou que uma boa história pode atravessar fronteiras e inspirar não apenas fãs, mas também movimentos sociais inteiros.


Agora fica a reflexão: One Piece é apenas um anime de aventura, ou pode ser visto também como um manifesto cultural contra a tirania?

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